Via Castelli: A Casa de Renée Lefèvre
As obras que compõem esta exposição foram pintadas aqui mesmo, ou seja, na casa de número 341 da Rua Martinico Prado, na qual viveu Renée Lefèvre, uma das mais destacadas paisagistas brasileiras de todos os tempos.
O imóvel abriga um dos
mais tradicionais restaurantes da região de Higienópolis e Santa Cecília, em São Paulo: o Via
Castelli.
No quintal de sua casa havia uma jaqueira, planta originária da Índia, que se
adapta bem em países de clima tropical, atingindo cerca de 20 metros de altura. Esta
árvore, de tronco robusto, revestido por casca espessa, foi preservada quando a
casa foi ampliada para funcionar como restaurante. A presença inusitada do
tronco da jaqueira entre as mesas do Via Castelli confere ao ambiente um enorme
charme, sobretudo quando dele pendem saudáveis e pesadas jacas, que se tornam
ligeiramente amareladas quando maduras.
A presença da jaqueira no interior do
restaurante, atravessando seu teto e ganhando as alturas, é tão marcante que
levou seus proprietários a incorporar uma imagem dela ao logotipo da casa, com
citação dos nomes popular e científico da planta. A imagem da jaqueira se
destaca sobre o nome Via Castelli, que é acompanhado de uma referência a seu
tempo de existência — Desde 1977 — e do tipo de comida nele servida:
Pasta e GrilI.
A construção data do início do século XX, e foi feita num dos terrenos do
loteamento da Chácara Palmeiras, de propriedade de Angélica de Souza Queirós
Barros, que deu origem a várias ruas do bairro, entre elas a Rua das Palmeiras
e parte da Avenida Angélica. Ao lado desta chácara, situava-se uma outra, a da
Dona Veridiana, também loteada e que deu origem à rua de mesmo nome. Renée
pintou várias dessas chácaras, que se transformaram
em bairros, expandindo a cidade para além da área central.
Renée, depois de longas temporadas na França, durante as quais pintou preciosas
paisagens urbanas europeias, voltou para São Paulo e recriou, gráfica e
pictoricamente, a cidade, desde seu bairro até regiões periféricas. Pintou o
Parque Ibirapuera quando ele ainda era um charco e uma vista da Ponte Grande
que já mostra uma chaminé de uma São Paulo que se industrializava. Esta
exposição privilegia as paisagens do bairro de Santa Cecília, de seu quintal,
do interior de sua casa, de vasos com flores de seu ateliê, de pessoas de sua
convivência, tais como sua mãe Isaura e da filha de sua empregada, Verinha.
Tudo com muita competência e sensibilidade.
Renée Léfèvre não se casou. Dedicou-se inteiramente à sua arte. Independente,
foi secretária do Sindicato dos Artistas Plásticos de São Paulo, durante a
gestão da presidente Aflita Malfatti. Para pintar, começou a viajar para o
interior de São Paulo, depois para Minas Gerais, para o Rio de Janeiro, para a
Bahia, para Pernambuco, Paraíba e Alagoas, para o Maranhão e Ceará, chegando
até Belém do Pará, onde realizou uma deslumbrante série de pinturas
referenciadas no cais Ver-o-Peso. Acabou transformando-se na desenhista e na
pintora do Brasil. Sua obra atingiu tal nível de qualidade e de conteúdo que o
critico Geraldo Ferraz, do jornal O Estado de São Paulo, chegou a sugerir a
aquisição de toda sua produção pelo patrimônio artístico e histórico nacional.
MAURO ZOLKO E
Enock Sacramento
Membro da Associação Brasileira de Críticos de Arte
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